quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

AMOR: INVENÇÃO HOLYWOODIANA

Voz lúgubre de rádio: transmitida em baixa frequência

Chorei por uma moça apaixonada cheia de amor e misericórdia, mas você sabe: o tempo deteriorou meus órgãos genitais e não posso mais me apaixonar por coisa viva que for. Somente flerto com apresentadoras de telejornais e, mesmo assim, não sei por que, meu coração bate feliz e não correspondido adormeço: começo outra luta corporal: pastas e cremes para as mãos. O instante passa e mais uma vez pereço entre sins e nãos.
Tape 2: você sabe que o amor morreu, mas sua sombra me felicita. Passando pelas mãos quase as toca... chego a abandonar este estado de semi-letargia. Quando não transgrido, transmito intenções até maleáveis, esquisitas, mas aceitáveis e que possam lhe servir para algo ainda não descoberto: o desejo ou que dele restou depois de labutar lunaticamente antes do morrer da aurora.

Interrupção – solfejo em voz baixa

Ainda tento, antes que o tempo escorra pelos vidros da casa: a pálpebra escorre pelas lágrimas do orgulho e me encontro imóvel hora após hora neste desencanto.

Interrupção constante – azul violento toma o som

Tape 3: final da transmissão. Erro: fim mútuo de ódio tremendo.

Voz em off – cine morgenau

Sol em semcível céu, aproveitando a tarde da madrugada: e fechando-se em sombras simtilantes nuvens cinzaàs manhãs austeras reservadas no capim cavado da meniandra. Arco de luz que se encilha no penteado do pentelho: curva medonha da barriga miséria, vocifera voz mansa a escassez daaas velhas vagas coragens. Pulula sem fim um pornô, extinto caráter canino: assassino de instantes, nomes de virgens, possas de porra: escasso e mais uma vez escasso de carne ultrajada para tanto desejar.
Tentação de morango véucru vulgar: passando a mão, suando sujo: lambendo o murmultimo desejo antes de cair aos seus pés. Pios no escuro, torções e distorções: um hã. Hein? Não ouvi: o olho não escuta no escuro do quarto barato: o cachorro latia e gemia e uivava dando vezes por sossegado e pinto pendurado e endurecido na alcova do último piá vivo afoito: leito de rosas da casa azul.

Voz de locutor de novela mexicana – festival de música (transmitido pela TV)

Finalmente o veredicto: e o grande perdedor é... é... é... o clown!
- Música isto? É UM ABSURDO!!!!! Ó! INFÂMIA!
Eles finalmente perderam: a pequena burguesia decadente que só tomava banho aos sábados assistindo programas de auditória, ficaram aturdidos com os ecos de canhões que, por estarem estacionados mato adentro, eles num ouviam não.
(O microfone girava sonso a procurar uma vítima aturdida para fazê-lo cuspir acerca do espetáculo.)
- SHHHHHH!!! CALE A BOCA!!
Invadiram sua casa, assaltaram suas calças, suas filhas e suas calcinhas mancharam... (fim da transmissão – imagem congela na hiper-reticulada cara bonachuda do apresentador.)